Mercado de Ferro, visto da Doca do Ver-o-Peso |
Aos olhos de muitos, chamar o Ver-o-Peso de postal soa um tanto quanto vergonhoso, as caras entortam, as recomendações de segurança são inúmeras... Mas o local tem história e merece uma gestão que valorize profundamente seu exotismo e potencial.
Antigamente os barcos atracavam ali, levando e trazendo produtos pelos rios da região, até virar um entreposto fiscal, onde os portugueses instalaram um posto de fiscalização, para que os produtos fossem pesados e tributados, denominado Casa de Haver o Peso. Naquela região havia um alagado, chamado Igarapé do Piri, que foi aterrado e a sua foz é o que conhecemos hoje como Doca do Ver-o-Peso.
Com a desativação do pequeno posto alfandegário, foi iniciada a construção do Mercado de Carne (este conhecido também como Mercado Municipal, e pelo o que parece recentemente e suspeitamente restaurado, preciso adentrá-lo para formar opinião) e do Mercado de Ferro (ou de Peixe), aquele que vemos em todas as fotos do Ver-o-Peso (inclusive na do início deste texto), e que muitos associam como sendo apenas ali o Ver-o-Peso inteiro. O Mercado de Ferro foi trazido da Europa e montado aqui, e agora ele tem se desmontado por conta própria, visto que recentemente uma das janelas da torre despencou.
O Mercado desabando. Fonte: Paula Sampaio (O Liberal) |
Eu, particularmente, sou fã de feiras, e olhar a principal feira da minha cidade neste estado, é lamentável (nem queiram saber como estão as outras). Vemos os próprios feirantes reclamando do poder público, mas me pergunto por que que aqueles não fazem a sua parte? Depender da prefeitura em Belém, todo mundo sabe que é como jogar na loteria, podes ter sorte ou não de ter teu desejo realizado, mas se eximir de suas responsabilidades é covardia. Temos feirantes sujos (sem entrar na questão dos grosseiros e desonestos), que reclamam da sujeira na feira, mas não orientam aquele freguês que costuma jogar lixo no chão, e muito menos têm a iniciativa de limpar as adjacências de sua própria barraca. Olha o resultado abaixo:
Quem suja mais? O freguês ou o feirante? Foto: Paula Sampaio (O Liberal) |
"Diz que" o PAC Cidades Históricas irá contemplar alguns locais em Belém, pena que se tratando do Ver-o-Peso será só o Mercado de Ferro e o Solar da Beira, bem ao lado e onde hoje funciona o Museu do Índio (precário, mas uma boa iniciativa).
O ideal seria pensar em "complexo do Ver-o-Peso" e não em suas partes. De medidas paliativas estamos saturados, em todos os setores, e a nível nacional... É um gastar-pouco-em muitos-lugares cansativo e deixando um legado de obras pouco eficientes e de curto prazo de validade. O mundo precisa de bens duráveis, por mais que se tenha que gastar muito em um projeto, só o fato de saber que ele contará com uma infraestrutura de primeira qualidade, manutenção constante, perfeccionismo, já significa que será mais sustentável, e não algo descartável.
É fato que Belém têm problemas que parecem ser muito mais prioritários. Entretanto, a revitalização do nosso maior cartão-postal envolve um pouco de cada defeito da nossa cidade: ausência de saneamento básico, degradação do patrimônio arquitetônico, degradação cultural, segurança, educação, risco de acidentes, insalubridade etc.
O Ver-o-Peso pode continuar sendo autêntico como é, sem abrir mão do conforto e da modernidade, e sem ser conivente a cotidianos ditos exóticos mas que já não são apenas brincadeira, como a venda de "feitiços" contendo partes de animais em risco de extinção, o comércio de animais capturados ilegalmente e o achar que urubus sempre fizeram e devem fazer parte da paisagem (nada contra os urubus).
A Doca do Ver-o-Peso |
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