13 de fevereiro de 2011

Problemão-postal...

Mercado de Ferro, visto da Doca do Ver-o-Peso
 Como costumam falar por aqui em referência a algo muito bom que acabou: "Belém já teve...". Logo vamos poder colocar na lista que Belém já teve um cartão-postal.
Aos olhos de muitos, chamar o Ver-o-Peso de postal soa um tanto quanto vergonhoso, as caras entortam, as recomendações de segurança são inúmeras... Mas o local tem história e merece uma gestão que valorize profundamente seu exotismo e potencial.
Antigamente os barcos atracavam ali, levando e trazendo produtos pelos rios da região, até virar um entreposto fiscal, onde os portugueses instalaram um posto de fiscalização, para que os produtos fossem pesados e tributados, denominado Casa de Haver o Peso. Naquela região havia um alagado, chamado Igarapé do Piri, que foi aterrado e a sua foz é o que conhecemos hoje como Doca do Ver-o-Peso.
Com a desativação do pequeno posto alfandegário, foi iniciada a construção do Mercado de Carne (este conhecido também como Mercado Municipal, e pelo o que parece recentemente e suspeitamente restaurado, preciso adentrá-lo para formar opinião) e do Mercado de Ferro (ou de Peixe), aquele que vemos em todas as fotos do Ver-o-Peso (inclusive na do início deste texto), e que muitos associam como sendo apenas ali o Ver-o-Peso inteiro. O Mercado de Ferro foi trazido da Europa e montado aqui, e agora ele tem se desmontado por conta própria, visto que recentemente uma das janelas da torre despencou.

O Mercado desabando. Fonte: Paula Sampaio (O Liberal)
O Ver-o-Peso é um daqueles lugares de Belém onde o passado ainda se faz muito presente. O "haver o peso" não existe mais, porém a rotina secular de chegada de riquezas da Amazônia sim, e fascina principalmente quem não é daqui. Perfeito seria se encontrássemos a limpeza e organização de alguns mercados impecáveis de outras capitais brasileiras (onde coloco o de Curitiba em primeiro lugar), somados a essa variedade de cores, aromas e sabores, composto por frutas tão comuns por aqui que quase não acreditamos quando outro brasileiro as vê pela primeira vez, cerâmicas, artesanatos em fibras de palmeiras nativas, tucupi, maniva, cheiros, mandingas...
Eu, particularmente, sou fã de feiras, e olhar a principal feira da minha cidade neste estado, é lamentável (nem queiram saber como estão as outras). Vemos os próprios feirantes reclamando do poder público, mas me pergunto por que que aqueles não fazem a sua parte? Depender da prefeitura em Belém, todo mundo sabe que é como jogar na loteria, podes ter sorte ou não de ter teu desejo realizado, mas se eximir de suas responsabilidades é covardia. Temos feirantes sujos (sem entrar na questão dos grosseiros e desonestos), que reclamam da sujeira na feira, mas não orientam aquele freguês que costuma jogar lixo no chão, e muito menos têm a iniciativa de limpar as adjacências de sua própria barraca. Olha o resultado abaixo:
Quem suja mais? O freguês ou o feirante? Foto: Paula Sampaio (O Liberal)

E a urubuzada se refestelando dos restos de peixe e outras coisas mais da Doca do Ver-o-Peso?? Já viram aquilo quando a maré está baixa? Tem necessidade? E ainda deve ter quem ache normal ("ah, é uma feira"). Infelizmente muitas referências dos belenenses estão equivocadas. Coisas do nosso mau condicionamento cultural...
"Diz que" o PAC Cidades Históricas irá contemplar alguns locais em Belém, pena que se tratando do Ver-o-Peso será só o Mercado de Ferro e o Solar da Beira, bem ao lado e onde hoje funciona o Museu do Índio (precário, mas uma boa iniciativa).
O ideal seria pensar em "complexo do Ver-o-Peso" e não em suas partes. De medidas paliativas estamos saturados, em todos os setores, e a nível nacional... É um gastar-pouco-em muitos-lugares cansativo e deixando um legado de obras pouco eficientes e de curto prazo de validade. O mundo precisa de bens duráveis, por mais que se tenha que gastar muito em um projeto, só o fato de saber que ele contará com uma infraestrutura de primeira qualidade, manutenção constante, perfeccionismo, já significa que será mais sustentável, e não algo descartável.
É fato que Belém têm problemas que parecem ser muito mais prioritários. Entretanto, a revitalização do nosso maior cartão-postal envolve um pouco de cada defeito da nossa cidade: ausência de saneamento básico, degradação do patrimônio arquitetônico, degradação cultural, segurança, educação, risco de acidentes, insalubridade etc.
O Ver-o-Peso pode continuar sendo autêntico como é, sem abrir mão do conforto e da modernidade, e sem ser conivente a cotidianos ditos exóticos mas que já não são apenas brincadeira, como a venda de "feitiços" contendo partes de animais em risco de extinção, o comércio de animais capturados ilegalmente e o achar que urubus sempre fizeram e devem fazer parte da paisagem (nada contra os urubus).


A Doca do Ver-o-Peso

Nenhum comentário:

Postar um comentário