19 de fevereiro de 2011

"Esse rio é minha rua..."

Lá vem ela...
Tem quem diga que a chuva de Belém é abençoada, não mata, não causa deslizamentos, não forma torrentes... Não sou muito simpático a esses comentários, primeiro por achar um desrespeito aos que têm suas vidas extremamente perturbadas por este fenômeno natural em alguma outra parte do país, segundo porque não é uma afirmativa tão verdadeira. Abençoada sim, por termos água em abundância o ano inteiro, este elemento que por si só é a base, é essencial para a vida, indispensável e precioso, mas que também inunda e causa perdas materiais e doenças para alguns de nossos conterrâneos belenenses.
Talvez não seja tão abençoada justamente pela forma como nós lidamos com ela. Ao mesmo tempo em que faz parte de uma rotina divertida, onde não é lenda que os encontros são marcados "antes que chova" ou "depois da chuva", e amenizadora, ao se vislumbrar as nuvens carregadas se aproximando de leste, depois de um dia de sol inclemente, a chuva se torna inconveniente quando percebemos que a nossa forma de ocupação do solo e nosso urbanismo foram concretizados de costas para nosso clima e geografia (excesso de impermeabilização do solo, desmatamento urbano, ocupação em áreas de várzea, etc).
Eu, como leigo em engenharia, acredito que algumas medidas em andamento (macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova e do Paracuri) são eficazes e a melhor saída para os transtornos gerados por chuvas intensas e quase diárias, mas não sei se para casos como o ocorrido nestes dias de maré alta. Belém possuia áreas de várzea, que foram aterradas, urbanizadas, mas o ciclo natural das águas não reconhece isto, e sempre irá avançar para estas áreas.

Sol e chuva na Baía do Guajará
 É até vergonhoso quando uma cidade que convive com a chuva de quase todos os dias (usando-a até como atração turística) ainda passe por problemas sérios gerados por altos índices pluviométricos. Não digo dos problemas de "uma vez ou outra", porque qualquer lugar do mundo onde a precipitação pluviométrica seja concentrada, atípica, está em risco iminente de sofrer inundações, mas este fato se tornar corriqueiro sabendo que pode chover intensamente em um número considerável de dias no ano, é outra história.
A culpa não é da chuva. Vai continuar chovendo (eu espero) e devemos agradecer por isto. É melhor a abundância de água do que a falta dela.

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