26 de julho de 2011

Filho de caboclo, caboclinho é...

Esse é um daqueles desabafos em que a ortografia formal deste idioma deseja ser substituída por tudo aquilo que ele tem de mais horrendo e pobre em seu vocabulário... Mas como o caso não é tããão grave assim (porém bastante incômodo), a ponto de justificar tamanha violência verbal, vou tentar manter a calma e fazer uma explanação racional.

Primeiramente, nada contra os caboclos! Indivíduos estes que fazem parte das nossas origens, miscigenação, diversidade cultural, e que tocavam/tocam fogo no domínio de seus aposentos, para afastar espíritos ruins ou se livrar de seus resíduos sólidos. Uma coisa é ter este hábito, esta cultura, morando em uma palafita na beira do rio e no interior do interior, por motivos de força maior (e nem assim considero algo correto e que deva ser perpetuado, mas aí também já é mais outra história...), e outra coisa é trazê-lo para o quintal da sua casa, no meio de uma cidade de quase 2 milhões e tantos de habitantes. Isso se chama, pejorativamente falando: caboquice.
No Pará como um todo e, lamentavelmente, em Belém esse hábito de tocar fogo num amontoado de folhas, galhos, lixo e o que se achar potencialmente inflamável, nos quintais é rotineiro. Se o dia estiver lindamente ensolarado, ventilado e com o céu azul profundo, então...
Tudo bem, a coleta de lixo não abrange 100% da cidade e o caminhão coletor às vezes parece não ter horário fixo em alguns bairros, mas o que justifica ver aquela coluna de fumaça dançante ao ritmo do vento, impregnando casas e apartamentos, saindo do fundo de residências no bairro do Reduto, um dos mais centrais e urbanizados bairros de Belém? Falta do que fazer? Macumba? Enfeite?

Primitivo.
Minha indignação abranda-se um pouco por saber como o belenense é mal informado e pouco mobiliza-se para mudar alguma coisa que critica na sua cidade, sua única arma é reclamar ou concordar com a reclamação dos outros, principalmente quando se trata do (des)prefeito que ajudaram a colocar no poder, e que  é capaz de persuadir nossa coitada população para eleger o (des)prefeito II. Portanto, vou iniciar minha campanha educativa com as informações abaixo "garimpadas" na internet, na esperança de que um dia sirva para orientares um provável vizinho fumacento, e até mesmo para ti que, porventura, goste de tocar fogo em tudo o que vê amontoado ou é simpatizante da prática por achar que não é nada de mais.

"Grande parcela da população, infelizmente, desconhece alguns aspectos do problema, porém, queimar qualquer coisa, com o propósito de se livrar dela e/ou dos inconvenientes por ela causados, gerando poluição, realmente ou potencialmente causadora de danos à saúde humana, é crime, na medida em que infringe o artigo 54, da Lei do Meio Ambiente (Lei Federal 9.605/98).
A prática de queimadas não pode ser efetuada nem mesmo no quintal do próprio morador. Embora o quintal seja propriedade particular, a atmosfera é um bem de uso comum da comunidade e da humanidade. Diante da desinformação sobre o tipo de material queimado pelos moradores, cito que nem mesmo folhas, capim, grama, galhos, troncos, madeira, serragem e esterco seco podem ser queimados, pois apesar de serem rejeitos naturais, a fumaça é danosa e, até, fatal. A queima de vegetais produz fumaça que contém:

(a) material particulado, que provoca inflamações nas vias aéreas;
(b) gases e substâncias irritativas e, até, geradoras de câncer.

Para isto há algumas alternativas corretas, por exemplo:

(a) Enterrar em cova rasa, que permita oxigenação e decomposição aeróbica, fertilizando o solo;
(b) Jogar uma camada suficiente de terra, por cima, para decomposição;
(c) Para pequenas quantidades, fragmentar os ramos e, com as folhas, ensacar para o lixeiro levar;"

Por fim, em casos mais extremos, podes recorrer à Secretaria Municipal de Meio Ambiente - SEMMA e fazer uma denúncia. Apesar da má fama da Prefeitura de Belém (o que abrange seus diversos órgãos) o setor de Fiscalização da Semma não deixa a desejar quando é chamado.
É preciso que os cidadãos de Belém sejam unidos e conscientizados, na busca pela melhoria de problemas corriqueiros, que não são poucos em nossa cidade. Já não basta a degradação da qualidade do nosso ar por alguns ônibus-múmias que circulam por aqui? Belém é poluída e tende a tornar-se cada vez mais. Que medidas a cidade vêm tomando para evitar isso? Que moral nós temos para dizer que moramos em um local do mais puro ar? Pense nessas questões quando olhar com desdém àquelas imagens deploráveis da poluição na megalópole paulistana, por achar que aqui se respira muito melhor.
Será?

13 de maio de 2011

Égua do barulho!

Então, meu amigo caboclo motorizado, dentro do teu carro fechado, com ar-condicionado, parado no sinal ou no meio da rua mesmo, fazendo aquela fila dupla de todos os dias, deixando o pisca alerta porque está resolvendo problemas pessoais, tais como esperando a namorada, deixando o filho na escola (ou esperando o(a) queridão/queridinha vir lááá de dentro do colégio), entregando algo a alguém em algum lugar... Saiba que és um dos culpados pelo caos no trânsito dessa cidade. Não adianta jogar toda a culpa no (des)prefeito (gostei muito deste apelido que o Duciomar ganhou), no governador, na saída/entrada única da cidade, na chuva, na Ctbel, no ônibus... Deixe de egoísmo e perceba que todos estes atos supracitados não são a única razão, mas contribuem para a cidade estar como está. E o que estes atos acarretam?

1 - Quando tu paras em fila dupla diminui toda a mobilidade de uma via, pois a passagem dos carros estreita-se, sem contar os outros indíviduos que chegam para completar a fila que tu formaste, gerando um efeito cascata, pois obstruindo uma via, as demais são direta e indiretamente prejudicadas;

2 - Obstrução de ruas causa congestionamentos, que por sua vez causam estresse e o estresse faz todo mundo começar o... buzinaço!! E na verdade é sobre isso que quero comentar...

Se quiseres medir o grau de ignorância/tolice de um cidadão, coloque uma buzina na frente dele. Este objeto faz a mais linda das pessoas parecer um asno estressado no meio da rua, imaginando que ao apertar a buzina por 8.736.480 vezes seguidas o carro da frente vai voar e ele poderá continuar seu trajeto. Égua, vamos ser civilizados! Usar a buzina não vai resolver todos os teus problemas, ela está ali apenas para medir teu grau de irritação e levar no mesmo barco a vizinhança.
Sim, claro, buzinas existem em todos os carros, no mundo todo, mas este texto especialmente para Belém justifica-se pelo gosto que o belenense tem pelo barulho. É um buzinar "sem noção" em determinados momentos. Bom seria se gastasse gasolina...

Um dos muitos horários de pico de Belém...
3 comentários simples e construtivos garimpados da internet:

- Abriu o sinal e tem um carro na frente? Buzina! Ôpa... isso não. Tem motoristas que ao abrir o sinal quer que numa fração de segundo o motorista da frente dê uma largada de Fórmula 1.

- O trânsito está lento? Não adianta buzinar. Você só vai ficar irritado e irritar os outros. Se buzina fosse mágica, nenhuma cidade grande teria engarrafamento.

- Em muitas situações o mais coerente é piscar o farol alto. Em alguns casos consegue chamar mais a atenção do que a buzina.


E alguns lembretes para quem faltou a aula de Legislação de Trânsito:


"Art. 41. O condutor de veículo só poderá fazer uso de buzina, desde que em toque breve, nas seguintes situações:

I - para fazer as advertências necessárias a fim de evitar acidentes;

II - fora das áreas urbanas, quando for conveniente advertir a um condutor que se tem o propósito de ultrapassá-lo."

"A punição prevista para essa infração (o uso abusivo da buzina), considerada leve, é de R$ 53,20, com perda de três pontos no prontuário da habilitação."

Ahhh, ainda não descobriram o quão podem enriquecer em Belém :)






19 de fevereiro de 2011

"Esse rio é minha rua..."

Lá vem ela...
Tem quem diga que a chuva de Belém é abençoada, não mata, não causa deslizamentos, não forma torrentes... Não sou muito simpático a esses comentários, primeiro por achar um desrespeito aos que têm suas vidas extremamente perturbadas por este fenômeno natural em alguma outra parte do país, segundo porque não é uma afirmativa tão verdadeira. Abençoada sim, por termos água em abundância o ano inteiro, este elemento que por si só é a base, é essencial para a vida, indispensável e precioso, mas que também inunda e causa perdas materiais e doenças para alguns de nossos conterrâneos belenenses.
Talvez não seja tão abençoada justamente pela forma como nós lidamos com ela. Ao mesmo tempo em que faz parte de uma rotina divertida, onde não é lenda que os encontros são marcados "antes que chova" ou "depois da chuva", e amenizadora, ao se vislumbrar as nuvens carregadas se aproximando de leste, depois de um dia de sol inclemente, a chuva se torna inconveniente quando percebemos que a nossa forma de ocupação do solo e nosso urbanismo foram concretizados de costas para nosso clima e geografia (excesso de impermeabilização do solo, desmatamento urbano, ocupação em áreas de várzea, etc).
Eu, como leigo em engenharia, acredito que algumas medidas em andamento (macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova e do Paracuri) são eficazes e a melhor saída para os transtornos gerados por chuvas intensas e quase diárias, mas não sei se para casos como o ocorrido nestes dias de maré alta. Belém possuia áreas de várzea, que foram aterradas, urbanizadas, mas o ciclo natural das águas não reconhece isto, e sempre irá avançar para estas áreas.

Sol e chuva na Baía do Guajará
 É até vergonhoso quando uma cidade que convive com a chuva de quase todos os dias (usando-a até como atração turística) ainda passe por problemas sérios gerados por altos índices pluviométricos. Não digo dos problemas de "uma vez ou outra", porque qualquer lugar do mundo onde a precipitação pluviométrica seja concentrada, atípica, está em risco iminente de sofrer inundações, mas este fato se tornar corriqueiro sabendo que pode chover intensamente em um número considerável de dias no ano, é outra história.
A culpa não é da chuva. Vai continuar chovendo (eu espero) e devemos agradecer por isto. É melhor a abundância de água do que a falta dela.

13 de fevereiro de 2011

Problemão-postal...

Mercado de Ferro, visto da Doca do Ver-o-Peso
 Como costumam falar por aqui em referência a algo muito bom que acabou: "Belém já teve...". Logo vamos poder colocar na lista que Belém já teve um cartão-postal.
Aos olhos de muitos, chamar o Ver-o-Peso de postal soa um tanto quanto vergonhoso, as caras entortam, as recomendações de segurança são inúmeras... Mas o local tem história e merece uma gestão que valorize profundamente seu exotismo e potencial.
Antigamente os barcos atracavam ali, levando e trazendo produtos pelos rios da região, até virar um entreposto fiscal, onde os portugueses instalaram um posto de fiscalização, para que os produtos fossem pesados e tributados, denominado Casa de Haver o Peso. Naquela região havia um alagado, chamado Igarapé do Piri, que foi aterrado e a sua foz é o que conhecemos hoje como Doca do Ver-o-Peso.
Com a desativação do pequeno posto alfandegário, foi iniciada a construção do Mercado de Carne (este conhecido também como Mercado Municipal, e pelo o que parece recentemente e suspeitamente restaurado, preciso adentrá-lo para formar opinião) e do Mercado de Ferro (ou de Peixe), aquele que vemos em todas as fotos do Ver-o-Peso (inclusive na do início deste texto), e que muitos associam como sendo apenas ali o Ver-o-Peso inteiro. O Mercado de Ferro foi trazido da Europa e montado aqui, e agora ele tem se desmontado por conta própria, visto que recentemente uma das janelas da torre despencou.

O Mercado desabando. Fonte: Paula Sampaio (O Liberal)
O Ver-o-Peso é um daqueles lugares de Belém onde o passado ainda se faz muito presente. O "haver o peso" não existe mais, porém a rotina secular de chegada de riquezas da Amazônia sim, e fascina principalmente quem não é daqui. Perfeito seria se encontrássemos a limpeza e organização de alguns mercados impecáveis de outras capitais brasileiras (onde coloco o de Curitiba em primeiro lugar), somados a essa variedade de cores, aromas e sabores, composto por frutas tão comuns por aqui que quase não acreditamos quando outro brasileiro as vê pela primeira vez, cerâmicas, artesanatos em fibras de palmeiras nativas, tucupi, maniva, cheiros, mandingas...
Eu, particularmente, sou fã de feiras, e olhar a principal feira da minha cidade neste estado, é lamentável (nem queiram saber como estão as outras). Vemos os próprios feirantes reclamando do poder público, mas me pergunto por que que aqueles não fazem a sua parte? Depender da prefeitura em Belém, todo mundo sabe que é como jogar na loteria, podes ter sorte ou não de ter teu desejo realizado, mas se eximir de suas responsabilidades é covardia. Temos feirantes sujos (sem entrar na questão dos grosseiros e desonestos), que reclamam da sujeira na feira, mas não orientam aquele freguês que costuma jogar lixo no chão, e muito menos têm a iniciativa de limpar as adjacências de sua própria barraca. Olha o resultado abaixo:
Quem suja mais? O freguês ou o feirante? Foto: Paula Sampaio (O Liberal)

E a urubuzada se refestelando dos restos de peixe e outras coisas mais da Doca do Ver-o-Peso?? Já viram aquilo quando a maré está baixa? Tem necessidade? E ainda deve ter quem ache normal ("ah, é uma feira"). Infelizmente muitas referências dos belenenses estão equivocadas. Coisas do nosso mau condicionamento cultural...
"Diz que" o PAC Cidades Históricas irá contemplar alguns locais em Belém, pena que se tratando do Ver-o-Peso será só o Mercado de Ferro e o Solar da Beira, bem ao lado e onde hoje funciona o Museu do Índio (precário, mas uma boa iniciativa).
O ideal seria pensar em "complexo do Ver-o-Peso" e não em suas partes. De medidas paliativas estamos saturados, em todos os setores, e a nível nacional... É um gastar-pouco-em muitos-lugares cansativo e deixando um legado de obras pouco eficientes e de curto prazo de validade. O mundo precisa de bens duráveis, por mais que se tenha que gastar muito em um projeto, só o fato de saber que ele contará com uma infraestrutura de primeira qualidade, manutenção constante, perfeccionismo, já significa que será mais sustentável, e não algo descartável.
É fato que Belém têm problemas que parecem ser muito mais prioritários. Entretanto, a revitalização do nosso maior cartão-postal envolve um pouco de cada defeito da nossa cidade: ausência de saneamento básico, degradação do patrimônio arquitetônico, degradação cultural, segurança, educação, risco de acidentes, insalubridade etc.
O Ver-o-Peso pode continuar sendo autêntico como é, sem abrir mão do conforto e da modernidade, e sem ser conivente a cotidianos ditos exóticos mas que já não são apenas brincadeira, como a venda de "feitiços" contendo partes de animais em risco de extinção, o comércio de animais capturados ilegalmente e o achar que urubus sempre fizeram e devem fazer parte da paisagem (nada contra os urubus).


A Doca do Ver-o-Peso

7 de fevereiro de 2011

Exagero às alturas!

Bairro do Umarizal em primeiro plano
 Eu não sei se é só em Belém, mas aqui as pessoas têm uma certa mania de agourar grandes construções. Cansei de ouvir comentários a respeito dos edifícios Sun e Moon, ambos de 40 andares, os maiores da Amazônia ("vai cair"). E sobre o Shopping Boulevard? Idem. Sem contar os boatos de antigamente, sobre os outros shoppings existentes na cidade. Parece que este tipo de desenvolvimento assusta os papachibés (não que este seja o sinônimo do desenvolvimento crucial e sustentável, mas não deixa de ser uma forma de desenvolvimento que pode ser bom ou mal, como qualquer outro, dependendo de como seja executado), como se fosse algo extraordinário por aqui, e não pudesse ocorrer simplesmente porque estamos na "simples e cabocla Belém". Não é bem por aí... Assim como alguns, eu também quero ver minha cidade se desenvolvendo e mantendo as tradições. Não é regra apenas um destes elementos prevalecer, o desafio global deste século é justamente conseguir este equilíbrio e, ao meu ver, mesmo sendo tão problemática, Belém ainda consegue se manter como uma das cidades brasileiras com raízes e identidade fortes, onde se pode continuar morando num prédio luxuoso e gigantesco, tomando um açaí na tigela depois do almoço, se embalando numa rede na sacada.  
Na tarde do dia 29 de janeiro deste ano nossa cidade passou pelo lamentável desabamento do edifício Real Class, de cerca de 30 andares, que estava em construção no bairro de São Brás. Infelizmente deixou 3 mortos, mas talvez sirva como alerta e aviso para que os responsáveis, por esta e outras obras, tenham mais cautela e compromisso nos seus papeis. Em 1987 tivemos um episódio parecido, porém mais trágico, com o edifício Raimundo Farias, no bairro do Umarizal, também em construção. Em ambos os casos, não creio muito nas especulações que correm pelas bocas amadoras da cidade, de que o culpado seja o solo de Belém, mas sim falhas de construção e negligência às reclamações do "cidadão comum" aos "poderosos". O tal do acreditar cegamente que nada pode acontecer, e só depois pensar em resolver o que não foi prevenido metodicamente e que, porventura, alguém tenha alertado. A remove montanhas, contanto que não se passe por cima dos outros...


Diante de fatos trágicos como o ocorrido com o edifício Real Class, é comum o ser humano se revoltar e procurar de imediato culpados, acusando e julgando, sem pensar duas vezes, o cidadão que aparentemente seria o dono da maior parte da culpa. Fazemos isso como se fôssemos desprovidos de erros, esquecendo que tudo relacionado à atividade humana é suscetível a falhas, o que também não significa que não podemos acertar inúmeras vezes.
Às vezes fazemos tudo tão pacientemente, dotados de boas intenções, com a maior cautela do mundo e, mesmo assim, acaba dando errado. Quem nunca falhou depois de ter dado o melhor de si em um determinado objetivo e se afogou em angústias ao ver que a idealização não fora alcançada?
Longe de mim defender os responsáveis pela obra. A diferença entre o errar com boas intenções e o errar por negligência é o que faz, novamente, toda a diferença. Se moradores relatam falhas, denúncias, reclamações, e são simplesmente ignorados, como se não soubessem o que estão dizendo e não tendo seus argumentos sequer estudados, pois alguém se acha no direito de saber mais do que todos, é de se esperar que este indivíduo seja responsável pelas consequências do seu objetivo não alcançado.

Bairro do Reduto e espigões do Umarizal
E agora tem vereador querendo proibir a construção de prédios de mais de 20 andares por aqui... Desde quando a altura dos prédios é o maior problema? Como sempre, alguém querendo mudar alguma situação sem cortar o mal pela raiz (dessa vez um fato não inerente a Belém, mas presente em diversos episódios da história brasileira). O que deveriam fazer é exercer suas responsabilidades e fornecer o melhor ao consumidor, utilizando materiais de boa qualidade, maior detalhamento de análises de solo, ter alguém que fiscalize as obras, mais proteção aos operários... Até Manhattan era uma várzea, e olhem os prédios que existem ali hoje! A Engenharia, como qualquer profissão, é brilhante quando bem feita. Quando não, um prédio pode desabar, não importa quantos andares ele tenha... 

5 de fevereiro de 2011

1616 - 2011

Então...Belém nasceu, em 12 de janeiro de 1616. Em um ponto estratégico, segundo a literatura, mais alto do que as redondezas e perfeito para instalar uma fortificação, protegendo o território - então português -  da cobiça de outras nações. O nosso Forte do Presépio, vizinho da Casa das 11 Janelas, do Museu de Arte Sacra, da primeira rua de Belém (Siqueira Mendes, aquela do Palafita e do Açaí Biruta), da Ladeira do Castelo, da Catedral da Sé, do casario da Rua Padre Champagnat e da Praça Frei Caetano Brandão, onde já deves ter sentado para bater papo tomando um tacacá, comendo o vatapá paraense, ou apenas para abocanhar um destes lanches de rua que os nativos adoram, acompanhado de um guaraná Garoto. Enfim, lugar aprazível, sem dúvidas um dos meus favoritos na cidade, onde dá para sentir e se sentir em Belém.

Interior do Forte do Presépio
Pois bem... Sem entrar profundamente em detalhes históricos, Belém passou por algumas fases desde seu surgimento. A revolta da Cabanagem, entre 1835 e 1840, onde revoltosos populares, em sua maioria pobres que moravam em cabanas na beira dos rios (acho que algo semelhante com as palafitas que conhecemos, daí o nome "cabanagem", de "cabanos", morador das cabanas) entraram em confronto com o governo, reinvindicando melhorias de vida, já que eram marginalizados propositalmente por serem mestiços e índios. Depois tivemos a Belle Époque, entre 1870 e 1910, período em que a região amazônica foi a maior produtora de borracha do mundo, quando nossa Belém (assim como Manaus) virou o centro das atenções, mas dessa vez por coisas boas. Passou por uma intensa modernização, aos moldes da Europa, e como era a cidade amazônica mais próxima do mar, se beneficiou ainda mais com todas aquelas regalias, pois facilitava o escoamento do látex.
Nesta época um dos nossos herois foi Antônio Lemos, maranhense, que virou Intendente por aqui (como o cargo de um prefeito, atualmente) e precursor de quase tudo que Belém tem de admirável, se tratando de urbanização. Foi ele também quem encomendou as sementes das mangueiras e planejou a aborização, tão maltratada hoje em dia (um caso perfeito para se escrever sobre...), de nossas ruas. Mas nem só de infraestrutura vivia Belém. Com todo esse progresso, viramos também um centro cultural, e tínhamos uma população rica em réis e educação, porém alguns pontos também ditados por Lemos, como a proibição de se fazer "algazarra, dar gritos sem necessidade, apitar, fazer batuque e sambas (artigo 110)". Pelo visto os belenenses sempre gostaram de um barulho mesmo!

Patrimônio histórico mal conservado na Rua João Alfredo, Centro
Enfim... Época de riquezas, de modernização tendo Paris como modelo, de bom gosto, de famílias que mandavam filhos para estudar na Europa, de intelectuais reunidos no Bar do Parque.. Mas um dia tudo isso acabou, alguém (Malásia) foi mais esperto do que nós e a Amazônia voltou a ser esquecida, principalmente pelos brasileiros.
Hoje em dia podemos dizer que Belém vive a fase de "sem prefeito". Há anos não temos a sorte de eleger uma autoridade que realmente ande por nossas ruas, como um belenense, e tenha a sensibilidade de notar o que precisa ser feito. E não é pouco! Não dá para dizer que os problemas passam despercebidos, quem anda nas ruas os enxerga com facilidade, quem não anda, finge que vê, finge que está fazendo algo para melhorar, e nós fingimos que acreditamos.
Atualmente, Belém vive uma Cabanagem moderna. Só precisamos torcer para que esta "revolta" não termine sem que os cabanos do século XXI consigam atingir seus objetivos, como ocorreu com os do século XIX.